domingo, fevereiro 05, 2006

Ela morreu.

Eram 4.10h. Tinham acabado há 10 minutos as visitas aos internados no hospital naquele dia. O segurança das visitas, rapaz alto e gordo de cabelo loiro, olhos azuis e pele pálida, organizava matemáticamente, sentado e compenetrado numa mesa junto à porta fechada que conduzia da sala de espera àquele bloco do hospital, os cartões dos visitantes numa caixinha de madeira com compartimentos.
De repente, irrompe na sala um homem esbaforido. Trazia o coração na boca e dirigiu-se imediatamente ao segurança, com desespero:
- Por favor! Recebi um telefonema da minha mulher que está lá dentro com a minha mãe, para vir rápido que ela estava a morrer..!
- Desculpe mas a hora da visita já passou há 10 minutos.
- Não está a perceber! Ela está a morrer! Você não tem mãe?
- Tenho ordens, percebe.
- Mas quais ordens? É uma vida!!
O homem chorava, apelava ao segurança e os presentes acudiam, barafustando por dó pelas lágrimas do pobre homem e contra o segurança, que impávido, continuava sentado e compenetrado na sua simples tarefa organizativa.
- Um último beijo à minha mãe! É so isso que eu peço- de mãos na cabeça e voz desesperada- Quer que a beije na morgue?!...
Não convenceram o segurança. E o homem não entrou.
Por sorte a mãe não chegou a morrer naquele dia. Mas morreu ontem....

Não achei que algo assim pudesse ser possível, mas esta cena aconteceu de facto. Anteontem às 4.10h, num hospital onde no momento me encontrava.

Quando é que nos morreu a Alma ..?

1 Comments:

At 12:16 da tarde, Blogger SM said...

Falta humanidade a muitos seres humanos, de facto....

 

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