quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Grandes.

Em cada frase, todo um atropelar de ideias que a reflexão com os anos construiu, exigentes, ansiosas por rapidez e identificação na resposta. E de viciante exercício mental, a conversa passa a espectáculo e eu a espectadore, e julgo-me já capaz de a ouvir mais um par de horas sem a interromper senão para exigir mais detalhe na descrição.

É a Maior Mulher que eu conheço. Sentadas frente-a-frente, tenho postos em mim dois olhos que já viram meio mundo. E a género de confidência inesperada, diz-me que eu a lembro dela quando tinha a minha idade. E nesse momento, eu sinto-me pequenina, mais do que habitual. E o meu estado lembra-me de ti, daquele teu post, naquele teu momento. Como se cruzaram os pedaços destes a quem idolatro, apesar das tantas diferenças entre eles.
Ela pede-me uma chave, para que possa entrar. Reclama que trago fechada dentro de mim uma acumulação de muito e diz que ela traz sempre uma chave na porta. Porque não haverá de trazer?...
Tu também abres uma janela, uma janela alta e mandas um pouco de muito cá para baixo. Um muito que sabe a tanto e a tão pouco e que flutua em mim ao sabor dos acontecimentos. Tenho pena de não te poder mandar algo de volta em resposta. Talvez também por isso esteja aqui a mandar confidências, protegida pelo negro airoso de ser a dark_butterfly.
E perco-me em voos espiralados, esforçados em redor de ti, procurando ascender para te falar e nos pôr num frente-a-frente. Mas a distância entre mim e a janela parece crescer aos meus olhos. Não hei-de atingi-la nunca. E por isso, acho-te mentiroso. Identificou-se com a tua, a minha pequenez, mas a tua é farsa, a tua é falsa. Tu és Grande. E hás-de ser sempre.
Vês o Mundo por esses olhos atentos que encabeçam o metro e noventa e quatro que estes dois olhos, que voam, que saltam mas que, de estagnados no metro e sententa e um, estão destinados a não olhar nunca à mesma altura...
E trazes no corpo o peso dos anos, hoje vinte e quatro, que te vão engrandecendo e corcundando. E Ela, Gigante, traz hoje já as rugas e o cansaço que lhe trouxeram os cinquentas quando lhe levavam em troca os sonhos dos vintes que o corpo de hoje já não poderia ver na prática.
E naquele jovem olhar, triste de conformado, sinto o depositar da esperança e de uma tarefa a cumprir. Uma tarefa que é a minha vida, deambulante até àquele momento em que ela se fixou em mim e eu me decidi fixar nela. E tu estavas presente. Somavas, nesse dia, um ano à idade e ao corpo. E somar um ano à idade e ao corpo é fazer contas em que o resultado será invariavelmente o número do dia em que o corpo vai deixar de existir. Mas antes desse dia, vocês Grandes, já tinham libertado o espírito do corpo. E já o tinham dividido em portas e janelas que palavras abriam, para outros entrarem, levarem consigo e multiplicarem.
E assim enganavam o fisco dos espíritos e o homem que um dia, espero, há-de inventar a eternidade...

Espero que tenhas um dia de hojeainda mais feliz do que o meu , Bruno!

1 Comments:

At 11:55 da manhã, Blogger SM said...

Grande. É ele. E somos nós todos um bcdo de grandes também porque reconhecemos a grandiosidade quando a vimos, e mais, tornamo-nos fãs dela.
Beijo.

 

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